23 agosto, 2007

Oh, l´amour

"Agora percebia que minha Justine havia sido realmente a criação de um ilusionista, sustentada por uma estrutura defeituosa composta de palavras, ações e gestos mal interpretados. Ninguém era culpado; o verdadeiro responsável era meu amor, que inventara uma imagem da qual se alimentar. Também não era uma questão de desonestidade, pois a pintura ganhou suas cores de acordo com a necessidade desse amor. Amantes são como médicos, disfarçam o amargor de um remédio para torná-lo mais palatável."

20 agosto, 2007

Margaridas verdadeiras

Queria saber o porquê disso agora. Depois de tudo superado esses sonhos recorrentes com margaridas verdadeiras.

De novo as noites insones e agitadas, molhadas de um suor gelado e um cheiro impregnante de traição. O lençol jogado no chão, a cama nua, despedaçada pelos movimentos violentos de minhas ânsias libertárias frustradas.

De volta o gosto rançoso de sangue velho.

Como se já não tivesse problemas suficientes.


Na foto margaridas verdadeiras da espanha.

10 agosto, 2007

Parenteses

Ainda padeço, do mesmo mal que me faz coadjuvante (o meu pouco de normal)
ainda tenho a mesma paixão que me faz tão igual (inúmeros outros)
ainda assisto aos mesmos vídeos (com minha parca paciência)
ainda escuto as mesmas músicas (odeio música)
ainda sinto os mesmos gostos (apesar de nunca ter tido paladar)
ainda beijo a mesma boca (não tendo mais sangue)
ainda fecho a mesma porta, com as duas paranóicas voltas (não tenho mais casa)
ainda espero a batida do portão (sem namorada)
ainda não arrumo a cama (meus lençóis continuam sujos)
ainda percorro os mesmo caminhos (não trabalhando mais lá)
ainda procuro os mesmos cartazes (não conhecendo ninguém que saiba escrever)
ainda vejo o dragão fechar seu olho no eclipse (sendo cético)
ainda rôo minhas unhas (meus dedos acabaram)
ainda frito meus bifes gordos (em meu colesterol)
ainda colo minha tatuagem recém feita em meu colchão inflável (furado)
ainda trepo de olhos abertos (não vejo mais nada)
ainda desenho (sem mãos)
ainda toco minha gaita sozinho (sem fôlego)
ainda sopro a fumaça do meu cigarro pelo canto da boca (pra não acertar o vazio ao meu lado)
ainda expurgo meus palavrões (meu vocabulário)
ainda necessito de pequenas doses de embriaguez pra viver (em meu emprego público)
ainda escrevo minhas respostas (em meu silêncio)


Enquanto eu nunca (Eu ainda)

02 agosto, 2007

Mulheres desinteressantes



Estava conversando a respeito de alguns filmes e o famoso Jules et Jim foi citado. Esse é um dos filmes hors concours que eu detesto.

Minha forma de medir o quanto gostei do filme é somente imaginar minha vontade de assistí-lo novamente e, no caso de Jules et Jim e Kill Bill entre outros, quando preciso fazer uma força sobrenatural para ficar até o fim, quer dizer que odiei.

Não procuro fazer uma racionalização em cima dos meus gostos como fazem muitos cinéfilos (termo que me incluo no oposto), apenas gosto ou não gosto. Não possuo a pretensão de que alguém tenham a mesma impressão que eu, ou em influenciar para tal.

Porém acho que percebi o que não me convence no caso Jules et Jim, e é o mesmo que não me desanimou no livro do Lossa, Travessuras da Menina Má. Ambos são construídos em cima de um interesse do personagem principal sobre uma moça, e essa moça não me convence, é completamente desinteressante, o que leva o resto do filme/livro ralo abaixo.

Percebo o esforço do autor em tentar tornar essas moças interessantes dotando-as de atributos onde a maioria dos homens que assistem esses filmes se interessariam (independência, espontaneidade, promiscuidade, certo nivel de cultura, e uma forte tendência ao foda-se), mas em vão, por algum motivo não consegue convencer e a personagem fica ridícula e só dá a vontade de mandá-la a merda o tempo inteiro.

E por isso preciso me esforçar para chegar ao fim de uma obra que se desenvolve em torno de uma mulher que consegue ser no máximo muito irritante.