16 novembro, 2008

Da brevidade das marcas de um corpo

...e foi então que ela veio me falar sobre coisas breves e também sobre outras duradouras, discorreu sobre o que é pequeno e grande. Medidas que aprendemos quando crianças, cuja noção perdemos no decorrer do tempo. Inicialmente tudo é eterno e enorme, conforme crescemos a mediocridade e brevidade nos acostumam, nos fazem ficar entorpecidos e não mais nos damos conta da real magnitude das coisas.

Ela me disse que, com o espírito viciado e podre, perdemos completamente a percepção das medidas. Como imergimos na pequenez, a adotamos como grandeza e a brevidade como duradoura. Vemos sofrimento e felicidade em nosso insignificante cotidiano, vivemos esperando a aposentadoria, uma pensão, um bônus no fim de mês, uma trepada ou uma gravidez de fim de semana. Me disse que, para ela, houve um tempo que se deparou com algo grande e eterno, e que o susto do despertar foi imenso. Foi quando conseguiu ver todo futuro e passado de uma vez só, como realmente são. Perdeu todas as certezas e dogmas e então caiu em um transe profundo de um absolutismo antes impensável. Contou que a maioria tenta alcançar tal estágio entrando em religiões e partidos políticos, mas ela o conseguiu em toda a sua verdade e plenitude.

Ela me falou sobre coisas pequenas, coisas simples, algo como manchas de pele e tatuagens, enfim, coisas que duram pouco. Mas ela me falou também da grandeza de outras coisas, que não duram apenas a brevidade de uma vida.

Foi então que ela se calou, me entregou uma carta e um livro, virou e então gravou eternamente em minha memória os tristes sons daqueles passos indo embora.