Se machucar cansa ou vira tumor.
"I carry the sun in a golden cup.
The moon in a silver bag."
Yeats
Iconoclasta, determinista, de beira de copo e fundo de cinzeiro, dono de um mundo de um eu só, mas inteiro.
va te faire futre
25 abril, 2007
16 abril, 2007
Incompetência
02 abril, 2007
Roupa suja se lava em casa
Acabei me acostumando com aquela figura quieta e introspectiva. O homem que passei a compartilhar da companhia e cama (para mim sempre foi difícil dizer a palavra "amar"). Sempre me apoiei naqueles ombros, mas sei que a recíproca nunca foi verdadeira. Pelo contrário, percebia uma ira incontrolável cada vez que oferecia minha ajuda e amparo, ele não queria nada de mim. Até hoje não entendo o porque dele ainda estar comigo. Não existe troca, não existe possibilidade de passar para o seu mundo.
As vezes percebo seu olhar tão distante. Olho aquele semblante melancólico e sinto falta de alguma coisa. Falta algo naquele olhar. Percebo a inquietação e a dor. Falta algo!
E eu sei o que é, aquele rosto orna com lágrimas. Várias delas aliás. Mas elas não vêm. Nunca vêm. Ele nunca chorou, não que eu tenha visto. Existe algo naquele passado que é intocável, é grande, pesado, triste, sangra e não transborda, acumula. Não consigo entender como não vaza.
Sigo com ele pelo tempo. Compartilhamos pedaços de coisas, cacos de vida, nada inteiro. Palavras nunca ditas, idéias nunca expostas. E mesmo assim é grande, é imenso mesmo sendo metade. Nem quero pensar como deve ser inteiro. Provavelmente já deve ter acontecido, e foi maior do que até ele mesmo pudesse aguentar. Sei que algo nele ruiu para sempre, abalado pelo peso do que já foi.
Chego em casa e ele já está. Isso é estranho, ele sempre demora tanto para voltar do serviço. Ele está sem camisa, olha para mim e abre um enorme sorriso. Eu gelo por dentro, quem é esse homem? Ele está lindo, está radiante. Vem em minha direção e me abraça como nunca fez antes, quase não consigo respirar tamanha a força. Ele afasta o seu rosto e me olha fixamente, apertando meus braços com força e diz:
- Hoje eu chorei. Hoje eu chorei muito. Tudo agora será diferente.
Ele caminha para a cozinha e volta com uma garrafa de vinho. Temos a noite mais maravilhosa desde que o conheci. Nem acredito nessa nova pessoa que meus olhos presenciam e meu corpo absorve. Fazemos amor a noite toda até que desmaio de exaustão.
Sonho coisas boas, acordo feliz, me viro e fico observando seu sono tranqüilo. Vou ao banheiro e me olho no espelho. Vejo que nunca fui tão bonita quanto hoje de manhã.
- Hoje sou a mulher mais bonita do mundo. Eu grito.
De repente reparo em algo estranho na camisa branca que está no cesto de roupas sujas. Sangue! A camisa dele está manchada de sangue, sangue de outra pessoa. Volto a me olhar no espelho e vejo que estou ficando um pouco mais feia.
Respiro fundo, jogo a camisa na máquina de lavar, encho de sabão, ligo e volto a me deitar sendo a mulher mais bonita do mundo.
******************************************
Entre essas e outras que eu adoro essa cidade: Comida de Buteco 2007
"I am a man of constant sorrow
I've seen trouble all my day..."
As vezes percebo seu olhar tão distante. Olho aquele semblante melancólico e sinto falta de alguma coisa. Falta algo naquele olhar. Percebo a inquietação e a dor. Falta algo!
E eu sei o que é, aquele rosto orna com lágrimas. Várias delas aliás. Mas elas não vêm. Nunca vêm. Ele nunca chorou, não que eu tenha visto. Existe algo naquele passado que é intocável, é grande, pesado, triste, sangra e não transborda, acumula. Não consigo entender como não vaza.
Sigo com ele pelo tempo. Compartilhamos pedaços de coisas, cacos de vida, nada inteiro. Palavras nunca ditas, idéias nunca expostas. E mesmo assim é grande, é imenso mesmo sendo metade. Nem quero pensar como deve ser inteiro. Provavelmente já deve ter acontecido, e foi maior do que até ele mesmo pudesse aguentar. Sei que algo nele ruiu para sempre, abalado pelo peso do que já foi.
Chego em casa e ele já está. Isso é estranho, ele sempre demora tanto para voltar do serviço. Ele está sem camisa, olha para mim e abre um enorme sorriso. Eu gelo por dentro, quem é esse homem? Ele está lindo, está radiante. Vem em minha direção e me abraça como nunca fez antes, quase não consigo respirar tamanha a força. Ele afasta o seu rosto e me olha fixamente, apertando meus braços com força e diz:
- Hoje eu chorei. Hoje eu chorei muito. Tudo agora será diferente.
Ele caminha para a cozinha e volta com uma garrafa de vinho. Temos a noite mais maravilhosa desde que o conheci. Nem acredito nessa nova pessoa que meus olhos presenciam e meu corpo absorve. Fazemos amor a noite toda até que desmaio de exaustão.
Sonho coisas boas, acordo feliz, me viro e fico observando seu sono tranqüilo. Vou ao banheiro e me olho no espelho. Vejo que nunca fui tão bonita quanto hoje de manhã.
- Hoje sou a mulher mais bonita do mundo. Eu grito.
De repente reparo em algo estranho na camisa branca que está no cesto de roupas sujas. Sangue! A camisa dele está manchada de sangue, sangue de outra pessoa. Volto a me olhar no espelho e vejo que estou ficando um pouco mais feia.
Respiro fundo, jogo a camisa na máquina de lavar, encho de sabão, ligo e volto a me deitar sendo a mulher mais bonita do mundo.
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Entre essas e outras que eu adoro essa cidade: Comida de Buteco 2007
"I am a man of constant sorrow
I've seen trouble all my day..."
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