27 dezembro, 2012

solene

Só fui entender a gravidade da minha situação quando comecei a pronunciar o nome dela a meia voz. Aquele mesmo tom que utilizamos quando nos referimos a parentes próximos e que morreram de forma trágica. Uma fala sussurrada e solene que, se alta, soa como pecado. Um respeito quase sagrado, desses que conferimos a alguém quando o tememos por saber que pode nos ferir muito profundamente.

Toda minha vida aliás, imergiu nessa mesma aura etérea, nessa eterna melancolia que me consome até hoje. Quando puxo aqueles cabelos imagino que, algum dia, minhas mãos passarão direto e perceberei que se trata de um espectro, um sonho insistente do qual não consigo despertar. Porém, é justamente quando puxo aqueles cabelos e a cavalgo, quando ouço aqueles gritos, o único momento em que saio de dentro dessas brumas que habito e entrevejo o realmente sou. É no gozo conjunto, no tremer da carne, na cuspida dentro daquela boca, no cheiro do suor, no som dos tapas na cara, no ejacular na garganta, no foder dolorido a que nos consagramos é que consigo abrir um pouco os olhos e contemplar a realidade.