01 maio, 2012

Pamela

Mesmo que tenha sido uma opção sabiamente decidida, às vezes sinto certa vergonha em contar sobre meu emprego, e era exatamente isso que eu estava sentindo naquele momento. Já havia conversado com Pamela algumas vezes, mas sempre estava limpo, sem as manchas de graxa que, normalmente, cobriam a minha roupa. Como sempre aparecia na hora em que retornava para casa, já havia tomado banho e trocado minhas roupas.

Fiz o que sempre faço quando me assolam sentimentos confusos, parti para uma auto-análise que deixou nosso encontro em um silêncio constrangedor. A pergunta dela pairou no ar até que cheguei a óbvia conclusão de que a vergonha nada mais era do que minha vontade em impressiona-la, e tinha dúvidas de que minha real profissão tivesse esse efeito. De qualquer forma, assumi a verdade. Apostei que, na maioria das vezes, mulheres mais sofisticadas são atraídas pela pobreza e marginalidade. Provavelmente esperam por algo que as tire do mundo seguro de seus maridos previsíveis e as insiram em algo mais próximo das tramas e intrigas que veem nas novelas.

- Mecânico. - Abaixei a cabeça inconscientemente como se estivesse me desculpando por algo, mas logo que percebi a postura submissa estiquei minha coluna voltando a encará-la.O tom de surpresa da resposta não me permitiu perceber se o que estava demonstrando era interesse ou apenas decepção.

- Surpresa?

- Sim, estou surpresa sim. Não me leve a mal, não tenho nada contra trabalhos mais simples, mas pelo nível de conversa que você tem, jamais imaginaria. Você conversa sobre literatura e a cultura de outros países, eu juraria que era formado e trabalhava em alguma coisa mais acadêmica.

- Já frequentei a universidade, mais de um curso aliás, até parar de me enganar e perceber que não era pra mim. Depois viajei bastante, a profissão de mecânico foi a que eu escolhi por me dar mais mobilidade, nem toda cidade precisa de um arquiteto, mas de mecânico, por menor que seja, sempre encontro serviço. Além do mais, posso trabalhar em qualquer lugar do mundo, engenheiro, administrador ou outra coisa seria muito difícil. E o fato de gostar de ler não tem nada com formação.

- Ok ok, me senti envergonhada agora, sei que fui preconceituosa. Desculpe-me. - Disse-me um pouco enrubescida enquanto empurrava seu prato para o centro da mesa, demonstrando que não iria comer mais nada, tinha apenas beliscado o sofisticado sanduíche de queijo e presunto que sempre pedia. Era um misto quente comum, só que feito com queijo emmenthal.

- Não tem problema realmente, gostei que foi sincera. - Retirei o prato e entreguei ao garçom.

Conheci Pamela naquele mesmo lugar onde passávamos antes de regressarmos para nossas casas. Ela era uma executiva em uma editora a poucas quadras da oficina onde eu trabalhava. O lugar que frequentávamos era um misto de restaurante e bar, algo comum por aqui e estava um pouco além do meu poder aquisitivo. Na verdade isso não me importava muito já que não comia nada, apenas pedia um café e abria um livro para ruminar pensamentos. Gostava muito dali por causa de uma mesa específica muito confortável que ficava em frente à janela e também pelo silêncio que me permitia desfrutar desse meu prazer de uma forma tranquila. Pamela ia lá para jantar e tomar alguns mojitos, o preço do cardápio não parecia ser um problema. Era baixinha e constantemente tocava nesse assunto, levava na esportiva minhas brincadeiras com relação ao seu tamanho mas eu sentia que a incomodava um pouco, tenho um metro e noventa e me acostumei a fazer troça do tamanho das pessoas para disfarçar minha timidez. Sempre se vestia formalmente, pelo menos quando a via. Vestidos e casaquinhos executivos que, apesar de sóbrios, não escondiam o seu belo corpo e os seus seios perfeitos que eu conseguira ver, vez ou outra, pela marcação de alguma camisa mais fina. Usava o rosto sempre pintado e tinha longos cabelos negros e lisos. Sua aparência chamava muita atenção e, por isso, era muito assediada. Apesar de tudo era muito simpática, algo raro em uma mulher tão bonita.

Havíamos nos encontrado algumas vezes desde que eu viera trabalhar na oficina, e acabamos nos tornando amigos, pelo menos até onde poderíamos ser. Claro que ela sabia do meu interesse, mas desviava das minhas provocações de modo educado, sempre sem me deixar saber se estava interessada ou não em que tentasse algo mais íntimo. Isso e o fato de ser casada me deixavam um pouco inquieto, não sabia o nível de libertinagem que ela era capaz e como encararia um assédio mais agressivo.

Hoje ela estava muito falante e me surpreendeu, de uma forma muito boa a propósito. Diferentemente do normal disparava palavrões em demasia, adoro escutá-los de bocas femininas, principalmente na cama.

- O filho da puta do meu marido está comendo uma vagabunda. - Disse com os punhos na mesa e sem me encarar.
 - Isso não é surpresa, estão juntos há treze anos, tanto ele quanto você já devem ter traído algumas vezes.

Ela me olhou por um tempo antes de concluir, dessa vez não desviou o olhar. Abriu as mãos, estavam vermelhas com a força que as havia apertado.
 - Não sou ingênua, sei que já deve ter acontecido, mas antes eu nunca fiquei sabendo, agora parece que tenho obrigação de tomar uma atitude, ainda mais que eu conheço a vagabunda. Fiquei com tanta raiva que cheguei a agredí-lo.

- Não devia ter feito isso, agressão nunca resolve nada e, depois de treze anos de casados, é capaz que ele queira revidar.

- Ele que se atreva, entro na justiça. Pior que, depois de brigarmos, ele ainda ficou conversando com ela enviando mensagens pelo celular, devia estar contando que eu descobri tudo. Estou com tanta raiva que tenho vontade de dar pro primeiro bonitão musculoso que aparecer.

Nessa hora fiquei mais alguns minutos de silêncio, geralmente sou rápido nesse tipo de assunto mas confesso que ela me pegou desprevenido. Era a chance perfeita, mesmo que eu ainda tivesse dúvidas se estava somente querendo meu apoio e nenhuma cantada, não podia desperdiçar a chance.

- Não sou bonitão, muito menos musculoso, mas amigo é pra essas coisas, vamos lá pra casa agora e resolvemos esse assunto. - Por precaução eu falei em tom de brincadeira. Ela, porém, respondeu prontamente, sem nenhum titubeio.

- Sim, era isso que esperava que você respondesse. Você tem carro ou vamos no meu?

Claro que eu não tinha carro, não falamos mais nada, pagamos a conta e fomos para minha casa. O trajeto foi um pouco constrangedor, só havia o silêncio e a fisionomia de uma raiva decidida no rosto de Pamela.

Dirigia rápido e com agilidade, estava realmente furiosa, confesso que não estava achando nada ruim na situação. Chegamos ao quarto que alugava e ela não teceu nenhum comentário a respeito da decadência do lugar, nem do pequeno espaço dos meus aposentos.

- O quanto eu posso confiar em você?

- Se quiser, isso fica somente entre nós dois.

- Não foi o que eu quis dizer. Você tem alguma doença? Não quero trepar com camisinha.

- Com relação a isso pode ficar tranquila, fiz vasectomia e tenho os exames em dia apesar de que, normalmente, me protejo. E quanto a você?

- Até onde eu sei sou saudável, a única possibilidade seria se pegasse algo do filho da puta do meu marido, o que pode ter acontecido. De qualquer forma, essa é a condição. Aceita ou não?

Não sou do tipo que consegue raciocinar muito com uma mulher doida pra trepar na minha frente, ainda mais linda desse jeito, dessa vez não houve nenhum tipo de silêncio, aceitei na hora. Só depois fui entender o porquê dessa condição.

Beijamo-nos raivosamente, despida de sua indumentária executiva o corpo dela era mais bonito do que imaginava. Sua bunda era impressionante, admirei-a por um bom tempo enquanto a cavalgava. Trepávamos com violência, ela parecia estar adorando, gozou duas vezes enquanto eu tentava, desde que começamos, segurar minha ejaculação.

Já empapados de suor, quando eu avisei que não conseguia segurar mais, Pamela me ordena que eu goze dentro. Quando ameacei tirar meu pau, ela segurou minha bunda, pressionando-a contra ela, gozei feito um cavalo, urrei de prazer.

Ficamos alguns minutos deitados de costas com a respiração ofegante.

- Tenho que ir para casa.

- Já? não quer descansar um pouco? Depois tomamos um banho e podemos sair para comer, se quiser pode dormir aqui.

- Não vou tomar banho.

- Porque essa pressa toda?

- Quero ir trepar com meu marido.

- Nossa foda o perdoou?

- Quero pedir para ele me chupar e ver a cara dele quando eu falar que está tomando a porra de outro homem.

Não falei mais nada, há tempos não ficava sem fala tantas vezes em uma conversa. Ela se vestiu e foi embora. Fiquei deitado, acendi um cigarro e, enquanto a fumaça fazia um percurso preguiçoso até o teto, fiz uma nota mental: 
- Cara, tenho que me lembrar de pensar duas vezes antes de irritar uma mulher.