05 setembro, 2012

Eternamente teu

Conto antigo

E naquele farfalhar confuso que meu coração fazia, embrulhando-me o peito e embotando minhas vistas para todo o resto que não fosse feito dela, percebi o quão longe de mim estava. Não queria mais ser eu, precisava me tornar algo diferente, maior. Queria ser algo com ela, precisava de algo que dela proviesse, um desprezo que fosse, uma agressão, algo intenso mas que se tornasse unicamente meu.

E por isso, senhores, aqui estou para lhes falar de alma aberta. Naquele momento percebi que apenas alcançaria a indiferença daquele anjo que me deu a graça de, pelo menos por um instante, o contemplar. E por toda minha existência nessa terra maldita, dessa vida e todas as outras que por acaso existirem, me lembrarei daqueles pequenos segundos em que aqueles olhos cruzaram com os meus e me lembraram da minha insignificância.

Desculpe o embargar de voz senhores. Teria alguém um lenço? Obrigado madame, gentileza de sua parte. Cada vez que eu me lembro daqueles olhos azuis imaculados olhando para os meus, que são cheios de pecado e veneno, me dá vontade de chorar. Tome seu lenço de volta senhora, novamente muito obrigado. Nunca fui digno para a mirada daqueles olhos, ninguém nunca o será.

Mas não pensem que eu fui profano de todo, não senhores. Não mantive meu olhar. Fixei-os apenas o tempo suficiente para mirar, depois desci-os ao chão e pressionei o gatilho e, como sabem, não errei. Não senhores, sou bom demais nisso, há tempos domino a arte.

Enfim, e já encerrando senhores, levo comigo algo dela que ninguém mais poderá carregar. Um beijo, um carinho, uma conjunção carnal ou o que chamam de amor, tudo isso poderia ser dividido, compartilhado com outros e se pulverizado pelo tempo mas, nisso, ela é só minha e assim será eternamente. Nenhuma sentença que vocês me derem, Juiz Maldito do alto de sua empertigada cadeira e seus miseráveis ignorantes (pois jamais fitaram aquele par de olhos) membros do juri, irá diminuir a graça que recebi de ter sido por ela percebido naqueles segundos finais e assim tomando parte importante em sua vida, mesmo que sendo por ser o responsável pela sua morte.