09 janeiro, 2008

"Toda saudade é uma espécie de velhice"

Das coisas antigas e poeirentas desse meu passado, existem relíquias que ainda insisto em remexer. Relíquias banhadas por uma beleza irreal que só as coisas velhas, prestes ao esquecimento, possuem.

Este brilho que no tempo que deveria ter sido não existiu me embriaga momentaneamente enquanto tento fugir um pouco do meu presente ainda vazio. Do fundo de minhas rugas pego o maravilhoso parto do meu filho, disseco aventuras infantis e retorno a amores passados.

Algumas das minhas vergonhas tento empurrar bem ao fundo mas, feito graveto em correnteza braba, afundam momentaneamente sempre voltando à tona. Meus óculos refletem nuvens que há muito já passaram, nublam minhas vistas com águas presentes de rios antigos.

Com a ponta do meu dedo sangro palavras na tábua da mesa que cede com o peso de minhas ruínas. Uma carta de felicidades simples e pensamentos complexos, tudo já apagado. Mas isso não me incomoda nem um pouco, sempre percebi a beleza da fugacidade.

Fecho a carta com uma língua de 100 anos de idade.