22 agosto, 2018

Fodido

Nao sei o que mais me fode em ti.
Se tua buceta
Ou tua boca
Na verdade acho que sempre soube a resposta,
São teus olhos

19 janeiro, 2018

Das caretas que realmente assustam

Alexey nunca havia se apaixonado antes, não dessa forma pelo menos. Não era simpático aos cultivadores de amores platônicos e achava o romantismo uma bobagem criada para vender livros de segunda e fazer música ruim. Mesmo assim, com toda ojeriza que sentia pela futilidade do interesse através da aparência, Alexey havia se apaixonado por uma foto.

Percebeu o que estava acontecendo apenas quando começou a acessar aquela imagem de 5 em 5 minutos alternando a tela do seu computador através do teclado. Não conseguia mais trabalhar, sua concentração estava inteiramente comprometida em esperar o próximo atl+tab e rever aquele rosto. Era uma imagem comum e não diferia das varias beldades disponíveis pela rede se não fosse um detalhe, a menina da foto estava fazendo uma careta e, para Alexey, isso fazia toda a diferença.

Conseguia entrever detalhes pela imagem, uma tatuagem no pulso com o símbolo do ateismo, os olhos pintados e um quadro com guarda chuvas pendurado na parede logo atrás. Conseguia construir algumas características através dessas informações, mas o que o conquistou, o que realmente o fez perder a cabeça foram as possibilidades. Alexey sabia que o que estava sentindo era construído por essas possibilidades e forjado pela admiração. Todos aqueles detalhes o intrigavam e o levavam a querer conhecê-la mais e mais, e isso era o indício mais forte de paixão que conhecia.

Dentro da sua cabeça teceu as imensas possibilidades de personalidade e dos embates resultantes que os dois teriam. Imaginou se algum dia contariam sua história entre risos, regados de cervejas e cercados por amigos íntimos ainda desconhecidos. Pensou que estariam todos em volta de uma mesa, a abraçaria segurando firme com os dedos entrelaçados em seus cabelos, a beijaria e diria para todos que se apaixonou a primeira vista apenas pela foto de uma careta. Imaginou os países que visitariam, como seria a família dela, das comidas que preparariam juntos enquanto bagunçavam a cozinha. Pensou nos vinhos que tomariam, nas brigas que teriam e nas pazes que fariam.

Porém algo gelava dentro de Alexey, ele percebeu algo mais, e isso lhe dava um puta medo, já tinha experiência para saber que ela era o tipo de mulher de quem sentiria ciúmes, por quem sofreria, alguém que o faria engolir todos os discursos ideológicos de liberdade e racionalidade que sempre vomitou e defendeu. Alguém que o desestabilizaria e o arrancaria de sua confortável ilusão de independência.

Alternou um pouco a tela tentando trabalhar mas o máximo que conseguiu foi parar de pensar no futuro e se ater ao presente, começou a pensar se teria namorado. Imaginou como devia ser seu dia a dia, quais os sonhos e os dramas quotidianos que ocupavam aquela vida. Queria fazer parte daqueles planos e problemas, ajuda-la a resolvê-los e levar alguns dos seus para ela. Tremia por dentro somente com a ideia de tocar aquela pele feita somente por pixels.

E assim foi dormir, com a imagem daquela menina torcendo a cara vagando por sua mente. Dormiu sorrindo um sono bom mas, no fundo, sabia que não passava de uma foto perdida na internet, sem nenhum nome e nenhuma possibilidade de encontrar a dona daquele rosto e poder ve-la fazer qualquer outro tipo de careta.


PS. (Alexey enviou esse conto em forma de carta. Como resposta conseguiu uma sequência linda e muda de fotos das mais variadas caretas, que só serviram para aumentar sua paixão e medo)