28 junho, 2023

Fragmentos de mim

O meu eu fragmenta-se eternamente na cadencia do relógio....o meu eu da madrugada, o da insônia, a odeia. Não entende o interesse e paixão. Só vê o sofrimento desnecessário que não o deixa dormir no torturante passar de horas revirando suado no colchão. Promete a si mesmo que dará um fim nessa conta que não fecha, nesses parcos dias de felicidade imensa mendigados em troca de agonias semanais em que sabe que a escolha é a cama de outro.

O meu eu sonolento se arrefece dando espaço para o eu da manhã. Esse, ainda entorpecido pela noite em claro, permanece em uma agradável indiferença. É um alivio pelo terror molhado da madrugada. Ainda assim sabe que não tem lógica a situação em que se meteu. O problema é quando começa a acordar de verdade, e isso demora um pouco. Então começa o eu da tarde.


O eu da tarde sofre com a ausência, ele torce a conta matemática e a necessidade daquela companhia o atormenta. O eu da tarde espera qualquer biscoito oferecido, qualquer petisco jogado. Espera algo que nem sempre vem. O eu da tarde não sabe o que fazer, cancela a decisão tão certa dos dois eus anteriores. O eu da noite chega sorrateiro.


O eu da noite chora e abre espaço pra insônia que fatalmente chegará pra começar tudo de novo.


O meu eu da madrugada...