16 novembro, 2008

Da brevidade das marcas de um corpo

...e foi então que ela veio me falar sobre coisas breves e também sobre outras duradouras, discorreu sobre o que é pequeno e grande. Medidas que aprendemos quando crianças, cuja noção perdemos no decorrer do tempo. Inicialmente tudo é eterno e enorme, conforme crescemos a mediocridade e brevidade nos acostumam, nos fazem ficar entorpecidos e não mais nos damos conta da real magnitude das coisas.

Ela me disse que, com o espírito viciado e podre, perdemos completamente a percepção das medidas. Como imergimos na pequenez, a adotamos como grandeza e a brevidade como duradoura. Vemos sofrimento e felicidade em nosso insignificante cotidiano, vivemos esperando a aposentadoria, uma pensão, um bônus no fim de mês, uma trepada ou uma gravidez de fim de semana. Me disse que, para ela, houve um tempo que se deparou com algo grande e eterno, e que o susto do despertar foi imenso. Foi quando conseguiu ver todo futuro e passado de uma vez só, como realmente são. Perdeu todas as certezas e dogmas e então caiu em um transe profundo de um absolutismo antes impensável. Contou que a maioria tenta alcançar tal estágio entrando em religiões e partidos políticos, mas ela o conseguiu em toda a sua verdade e plenitude.

Ela me falou sobre coisas pequenas, coisas simples, algo como manchas de pele e tatuagens, enfim, coisas que duram pouco. Mas ela me falou também da grandeza de outras coisas, que não duram apenas a brevidade de uma vida.

Foi então que ela se calou, me entregou uma carta e um livro, virou e então gravou eternamente em minha memória os tristes sons daqueles passos indo embora.

12 comentários:

Luiz Roberto Lins Almeida disse...

acho que sempre que vc escreve é muito bom!

Um tanto triste, mas bonito pra caramba!

tudo que é bom é breve

Beti Timm disse...

Oi, Forasteiro!

Estive lá no blog do AO e vi o teu nome e me chamou a atenção, pelo nome...rs.
Então vim conhecer teu espaço, e o achei bonito e com poesias que gosto muito (que mulher não gosta?).
Acredito que qdo um homem faz poesias, ele sempre o faz muito bem. Acho interessante um homem expressar suas sensibilidade, sem preconceitos.

Gostei muito!

Beijos de muito prazer!

Miguel S. G. Chammas disse...

Cheguei aqui sem convite específico.
Esta era uma visita há muito programada e ainda não concretizada.
Agora, por causa do AO 2008, vim conhecer este espaço e saio muito bem impressionado. Voltarei!
Apareça quando quiser lá no meu cantinho de rabiscos.

Anônimo disse...

Hum... Sons são efêmeros, tanto que se foram junto com os passos (o q retumba é o teu apego). Livro e carta são presente-s. O Pequeno e O Grande. Ou seria o inverso? Ou teriam a mesma proporção?
O que eu posso considerar enooooorme, você pode considerar mínimo. O que pra mim é correto, pra vc pode ser errado. A forma como vejo uma questão, ou fragmento de algo, vc pode ver diferente, sob outro ângulo. Questão de momento. A gente tende mesmo a deixar que o tempo (ou o momento) engula o que há de melhor em nós. Pq aprendemos a relativizar, dar dimensão a tudo e para suportar isso, inventamos paliativos ou válvulas de escape (sexo, drogas, dinheiro, religião, política, filosofia etc).
Acho que o ideal seria não termos essas noções de tamanho. Isso tira a importância, ou dá importância demais para o que não merece. Mas somos mortais nessa constante inquietação: queremos eternizar-nos nem que seja num outro mortal. Completamente incoerente, né? Mas onde está a coerência e quem precisa dela? Talvez a encontremos no grande e no pequeno, talvez...
Enfim?
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Ah, sim! Também vim pelo AO/2008!
Se bem que tenho a impressão de já ter estado por aqui, não sei... essa boca me parece tão familiar...
Texto excelente. Não mudaria uma vírgula ;-)

Inté.

forasteiro disse...

Então. O relativismo é uma invenção de velhos. Crianças são absolutistas, o que é extremamente confortável e seguro, porém mentiroso.

quanto as virgulas, vc mudaria sim ;)

Jacinta Dantas disse...

Texto bonito, como bonito é a constatação de que Ela, sendo forte, deixa sua marca tatuada na pele dele.
Estamos juntos no Amigoculto2008 e voltaremos a nos encontrar. Gostei daqui.
Um abraço

Zeca disse...

Acredito já ter passado por aquí. Lay out, textos, tudo me traz uma certa familiaridade... mas o que importa agora é o texto que acabo de ler. Tocante, pra ficar em apenas uma palavra! O primeiro parágrafo nos dá uma idéia do que virá nos outros e o último, fecha com chave de ouro o que acabo de ler. Acredito que ela também tinha o espírito forasteiro.
Mas ainda nos trombaremos por aí. Estamos no Amigo Oculto da Loba, à espera das surpresas que dezembro nos reserva. Coisas pequenas, coisas grandes, coisas simples e coisas que deixarão marcas em nossas peles.

Abraço.

Ceci disse...

olá, Forasteiro, vai no AO,onde achei o link; vai e escreve as Belezas do teu querer, como o fazes aqui. Abraços...

Anônimo disse...

é mesmo... viemos todos pelo AO. Poxa...cartas e livros. Vou voltar, forasteiro.

Sandrinha disse...

estou vendo que nosso AO desse ano tem muitos poetas e poetisas e eu estou aver navios :(
nao sei escrever um texto se quer que chegue aos seus pes :(
mas, eh muito bom descobrir novos blogs, novos amigos e o melhor poder conhecer um pouco de cada e saber quantos valores eles tem.
Prazer em conhecer C&A hahahahahaha
beijo
legal ter vc no AO
Sandrinha
www.brasileirinhanohawai.blogspot.com

Anônimo disse...

Às vezes o efêmero vira permanente e o que é pequeno, mínimo, ganha importância e ocupa um grande espaço.

Lúcio Fer disse...

Uau, mto bom! Mas, to impactado com a sua capacidade de desenhar!
Abração!