06 junho, 2011

A caçada

Sentia saudades dos pés trançados. Agora na rede, são outros os que me prendem. Cheiro a nuca daquele comprido pescoço como se fosse uma carreira de pó e me entorpeço com o perfume daquela pele. Deparo-me com um laço que abro como presente. Pesquiso cada espaço do interior daquela boca com minha língua, bebo todo aquele hálito de acordar como um encorpado vinho antigo.
Mantendo o movimento ritmado me afasto para admirar aqueles olhos semicerrados e o vermelho da violência de nossas bocas marcado naquele rosto. Então percebo uma mancha rasgada, de mesmo tom mas líquida, transparecer no lábio inferior.
Grito, não pelos desenhos que são feitos em minhas costas por aquelas unhas, mas pela presença de um nova cicatriz que vai se formando dentro do peito. Caio cansado, olho para aquele sorriso sacana e só percebo que virei caça no momento em que sou abatido.

"Na velhice o sujeito nada faz
A não ser uma igreja que visita
Mas se um dia encontrar mulher bonita
Ele troca Jesus por Barrabás (e ele sabe o que faz)
Lembra logo seu tempo de rapaz
Diz a ela "Me ame, por favor"
A resposta que tem é "Não, senhor!
Sua idade passou, deixe de prosa!"
Mulher nova bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor"


https://www.youtube.com/watch?v=1iEMjYsull0

2 comentários:

Petite disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
isabelle disse...

Mais do que possa controlar

É que começamos assim, descompromissados de tudo, sem intenção de nada, na floresta encantada
Arrepiamos com as reações, desentendemos com a nossa natureza, saímos do nosso habitat natural...
Começamos a caçada, ambos armados, os dois tentam ser os caçadores...
Olhamos um para o outro... começamos o jogo
E no jogo, descobrimos que cada dia um se torna a caça...
Hoje é o meu dia - Vem me caçar?