26 março, 2007

Das tonalidades azuis que o amor pode ter

O corpo azulado balouça melancólico no teto do quarto. Esquerda e direita na corda rangendo.
- Um mórbido móbile. - Ria com a cócega das sílabas no céu da boca.

Uma luz purulenta vaza a vidraça e, sangrada de sombra, projeta uma cruz funesta logo abaixo do coitado. Encostada no batente da porta, mão nas cadeiras e chiclé, meio na boca meio enrolado nos dedos, a mocinha assiste com admiração, visto que obra sua. Ela sabe que ele está melhor assim, era digno de pena, coadjuvante que não merecia a atenção de uma protagonista.

Ela gosta de ver aquilo, apenas se incomoda com as moscas azuis e o cheiro forte que, ali, meio que sufoca, mas não é insuportável para convencê-la ir embora.

Vendo o rosto, ela repara que está mais leve e sereno, provavelmente porque agora, definitivo por não ter mais jeito, sua mente está livre de mentiras e seduções que entretinham tanto a menina.

Depois de trepar com os amigos e até com o irmão do menino pendulante, ainda no quente da cama e com o sexo ardendo, se divertia contando as baldas e segredos que o morto confidenciava cuidadosamente para ela.

Ela ainda diz um "eu te amo" estridente antes de sair dando gargalhadas pela porta afora.

2 comentários:

Anônimo disse...

Djavan diz que o amor é azulzim.
Mas não acho muito pertinente essa música para trilha sonora do seu post quase triste.

Poesiamovel disse...

Bom q pude voltar pra onde tinha perdido de novo! E fui tão longe nesse azul da morte (sufocante) e da tristeza (blue) e nesse móbile (que daria, em si, um marcador tb)que demorei pra voltar. Mas acho que isso tudo é só minha vontade de ser poeta...