
Este brilho que no tempo que deveria ter sido não existiu me embriaga momentaneamente enquanto tento fugir um pouco do meu presente ainda vazio. Do fundo de minhas rugas pego o maravilhoso parto do meu filho, disseco aventuras infantis e retorno a amores passados.
Algumas das minhas vergonhas tento empurrar bem ao fundo mas, feito graveto em correnteza braba, afundam momentaneamente sempre voltando à tona. Meus óculos refletem nuvens que há muito já passaram, nublam minhas vistas com águas presentes de rios antigos.
Com a ponta do meu dedo sangro palavras na tábua da mesa que cede com o peso de minhas ruínas. Uma carta de felicidades simples e pensamentos complexos, tudo já apagado. Mas isso não me incomoda nem um pouco, sempre percebi a beleza da fugacidade.
Fecho a carta com uma língua de 100 anos de idade.