Antoine
acordou assustado, confuso por não conseguir enxergar. Ficou um tempo
deitado de costas tentando entender o que estava acontecendo. O lençol
arrancado na noite de sono violento estava enrolado em sua perna
esquerda. Sua cabeça avisa que não era para estar escuro, alguma coisa
tinha acontecido. Será que tinha acordado muito cedo e ainda era noite?
Será que estava mesmo em sua casa? Perguntas que fez para seu leito do
qual não obteve resposta. Sua pulsação começara a acelerar e, mesmo com o
tempo passado, em nada o breu se dissipara. Não ouvia nenhum ruido
vindo da rua. Onde estariam os carros, os ônibus matutinos, os bebados
voltando pra casa e os trabalhadores para o serviço? Por onde andava
aquele fervilhar urbano que o acordava todos os dias?
Antoine
estava imerso no escuro e silêncio, sozinho com seus pensamentos.
Chegou a cogitar se ainda estaria dormindo e que tudo aquilo não
passasse de um sonho. Sentia uma opressão enorme comprimindo seu peito,
uma tristeza imensa.
Começou
a pensar que a depressão era o estado natural do homem, afinal era só
ter um pouco de senso crítico para perceber que nada valia a pena, tudo
não passava de uma falsa sensação de importância em um mundo que nunca
notaria a existência individual de cada um. Imaginou que o otimismo e
felicidade eram proporcionados por alguma substância química liberada
por alguma parte do corpo e que causava um entorpecimento das noções de
realidade, mascarando tudo e tornando as coisas mais suportáveis. Ia
além, imaginava essa substância como algo finito, assim como os óvulos
femininos que nascem em uma determinada quantidade e são só aqueles
durante a vida toda. Por isso teríamos uma felicidade maior nos anos
mais novos e conforme avançamos na idade, a depressão começa a cobrar o
seu espaço.
Antoine
tinha total noção da insignificância de tudo, aquela sensação imensa de
vazio que sentia no quarto escuro e silencioso ilustrava bem sua
posição atual na vida. Não sabia por que levantar, para que sair daquela
cama ou quarto.
-Foda-se, quero pelo menos descobrir o porquê dessa escuridão e silêncio.
Somente ao colidir com uma parede que não deveria existir quando tentou se levantar pelo lado contumáz que percebeu, Antoine não estava em seu quarto.
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