Olhou um último momento enquanto ela
se afastava pelo corredor em direção ao elevador. A bolsa segura
com uma força nervosa por aquelas mãos pequenas e os saltos ecoando
alto pela madrugada quente daquelas outras portas silenciosas, eram 4
da manhã. Acompanhou-a com os olhos por pouco tempo e entrou, fechou a porta bem
devagar com as duas mãos. Girou a maçaneta para não fazer nenhum
barulho, sempre imaginou como ofensa se a pessoa que estivesse indo embora ouvisse o som da porta sendo fechada.
Entrou no quarto e sentiu o cheiro
forte de cigarro, a cama toda desfeita ainda estava quente e molhada.
Deitou e lembrou que ela havia dito que
não mais voltava. Odiava aquilo, quando alguém encerrava algo bom
só porque não teria exclusividade. Odiava essa tendência
possessiva das pessoas. Pensava que sentimento não se divide e não
é finito, não se gosta menos de uma pessoa por admirar
outra.
Se sentia muito triste naquele momento,
principalmente pelo fim desnecessário de algo que poderia ser bom
por tanto tempo, uma vida talvez. Gostava muito dela, bem além da
foda. Adorava conversar, beber, ver um filme em casa e passar o
tempo. Coisas bestas. Mas em sua concepção nada valia tanto quanto
sua liberdade.
Se assustou quando a campainha tocou.
Levantou-se e abriu a porta que nem havia lembrado de trancar. Vestia um sorriso que não pode se manter por muito tempo, era apenas o entregador de pizza que havia
errado de porta.
Um comentário:
Não entendo a procura insólita por uma felicidade de plastico, uma felicidade fácil, descrita e circunscrita ao conforto do mesmo já vivido.
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