27 abril, 2015

Cancum na chuva

Bêbado de vodka vagabunda com água de coco, andando pelas ladeiras de pirenópolis resolvo me proteger entrando na igreja.

Era uma casamento e algumas pessoas das ultimas filas se viraram para ver quem havia entrado mas logo me esqueceram e voltaram ao discurso enfadonho do padre que começava a ler alguma carta de um corinthiano para outro alguém.

Percebo uma moça loira muito jovem, com as coxas lindas aparecendo por baixo de uma minissaia preta logo ao meu lado, imaginei que seria parte da recepção matrimonial. Cheguei mais perto e pedi pra bater uma foto para mandar para minha ex que estava em cancum e me mandava várias fotos dignas de inveja. Disse para a loira que ela devia estar fodendo com algum mexicano ou turista nessa altura e queria mostrar que não estava sozinho. Ela riu e disse que não se importava, bati a foto e enviei.

Empolgado com o sorrisinho recém saído da adolescência e entorpecido pela água de coco (a coitada da vodka não tinha culpa nenhuma), cheguei ao ouvido dela e disse. Você não está fazendo nada mesmo, que tal aproveitar o padre e casar comigo?

Só o que consegui foi mais um sorrisinho antes dela se virar e sumir no casamento. Eu voltei pra chuva.

06 abril, 2015

foi daqui que pediram uma pizza?


Olhou um último momento enquanto ela se afastava pelo corredor em direção ao elevador. A bolsa segura com uma força nervosa por aquelas mãos pequenas e os saltos ecoando alto pela madrugada quente daquelas outras portas silenciosas, eram 4 da manhã. Acompanhou-a com os olhos por pouco tempo e entrou, fechou a porta bem devagar com as duas mãos. Girou a maçaneta para não fazer nenhum barulho, sempre imaginou como ofensa se a pessoa que estivesse indo embora ouvisse o som da porta sendo fechada.

Entrou no quarto e sentiu o cheiro forte de cigarro, a cama toda desfeita ainda estava quente e molhada.

Deitou e lembrou que ela havia dito que não mais voltava. Odiava aquilo, quando alguém encerrava algo bom só porque não teria exclusividade. Odiava essa tendência possessiva das pessoas. Pensava que sentimento não se divide e não é finito, não se gosta menos de uma pessoa por admirar outra.

Se sentia muito triste naquele momento, principalmente pelo fim desnecessário de algo que poderia ser bom por tanto tempo, uma vida talvez. Gostava muito dela, bem além da foda. Adorava conversar, beber, ver um filme em casa e passar o tempo. Coisas bestas. Mas em sua concepção nada valia tanto quanto sua liberdade.

Se assustou quando a campainha tocou. Levantou-se e abriu a porta que nem havia lembrado de trancar. Vestia um sorriso que não pode se manter por muito tempo, era apenas o entregador de pizza que havia errado de porta.

Da lucidez e da distância (1 km vs 3000 km)


Existe uma importância solene no momento em que nos percebemos desimportantes. Uma lucidez cruel na percepção do todo e do qual não mais fazemos parte.
E assim foi, conforme ela falava eu diminuía. A cada palavra acompanhada por um brilho no olhar eu encolhia. A importância da história vivida, ilustrada por inúmeros registros sorridentes e provocantes, me tiravam um grama de osso, uma nesga de músculo por frame.

No final só minha pele seca sobrava.

Eu não mais era grande parte dela, os vazios foram preenchidos mas não por mim. Pensei que ocupava aqueles espaços mas, se assim o fosse, não existiria a possibilidade dele ali ter estado, e esteve. E permanece.

Então agora, já que
o deliriuns tremens que te provocava não mais é exclusivo
minha boca já não beija melhor
minha graça não mais abre teu riso
minhas frases não despertam mais o interesse

me espanta que, de noite, no fim da festa,
o braço que ainda mais te abraça seja o meu.