
E por isso senhores, aqui estou. Naquele momento percebi que apenas alcançaria a indiferença daquele anjo que me deu a graça de, pelo menos por um instante, o contemplar. E por toda minha existência nessa terra maldita, dessa vida e todas as outras que por acaso existirem, me lembrarei daqueles pequenos segundos em que aqueles olhos cruzaram com os meus.
Desculpe o embargar de voz senhores. Teria alguém um lenço? Obrigado.
Cada vez que eu me lembro daqueles olhos azuis imaculados olhando para os meus, que são cheios de pecado e veneno, me dá vontade de chorar. Seu lenço senhora. Novamente muito obrigado.
Mas não pensem que eu fui profano de todo. Não senhores. Não mantive meu olhar. Fixei-os apenas o tempo suficiente para mirar, depois desci-os ao chão e pressionei o gatilho. E, como sabem, não errei. Não senhores, sou bom demais nisso.
Enfim senhores, carrego comigo algo dela que ninguém mais poderá carregar. Nisso ela é só minha e assim será eternamente. E nenhuma sentença que vocês me derem, Juiz Maldito e miseráveis ignorantes (pois jamais fitaram aquele par de olhos) membros do juri, irá diminuir a graça que recebi de ter sido por ela percebido e assim tomando parte importante em sua vida, mesmo que sendo por sua morte.