16 fevereiro, 2007

Eternamente teu

E naquele farfalhar confuso que meu coração fazia, me embrulhando o peito e embotando minhas vistas para todo o resto que não fosse feito dela, percebi o quão longe de mim eu estava. Eu não queria mais ser eu, queria ser algo diferente. Queria ser algo com ela. Precisava de algo que proviesse dela, um desprezo que fosse. Mas tinha que ser algo que se tornasse unicamente meu.

E por isso senhores, aqui estou. Naquele momento percebi que apenas alcançaria a indiferença daquele anjo que me deu a graça de, pelo menos por um instante, o contemplar. E por toda minha existência nessa terra maldita, dessa vida e todas as outras que por acaso existirem, me lembrarei daqueles pequenos segundos em que aqueles olhos cruzaram com os meus.

Desculpe o embargar de voz senhores. Teria alguém um lenço? Obrigado.
Cada vez que eu me lembro daqueles olhos azuis imaculados olhando para os meus, que são cheios de pecado e veneno, me dá vontade de chorar. Seu lenço senhora. Novamente muito obrigado.

Mas não pensem que eu fui profano de todo. Não senhores. Não mantive meu olhar. Fixei-os apenas o tempo suficiente para mirar, depois desci-os ao chão e pressionei o gatilho. E, como sabem, não errei. Não senhores, sou bom demais nisso.

Enfim senhores, carrego comigo algo dela que ninguém mais poderá carregar. Nisso ela é só minha e assim será eternamente. E nenhuma sentença que vocês me derem, Juiz Maldito e miseráveis ignorantes (pois jamais fitaram aquele par de olhos) membros do juri, irá diminuir a graça que recebi de ter sido por ela percebido e assim tomando parte importante em sua vida, mesmo que sendo por sua morte.

6 comentários:

Petite disse...

Ficou muito bom. Gostei muito.

Anônimo disse...

eu tb gostei muito.

Unknown disse...

Igor, não gosto de me intrometer... só observo, mas achei muito lindo tudo isso, e de como você está agora; e tenho outro, veja:


Meu Manifesto

Protesto veementemente
contra nosso amor pendente
na corda-bamba da vida.
Rejeito a saudade escondida
no bolsinho de trás do coração.
Não abro mão da ternura
se cai do teto,
se a sala é escura,
se o caminho que era reto ficou torto.
Se o gato mia ou finge-se de morto.
E repudio o lamento que cai na sopa
a cada despedida a queima-roupa,
que acaba perdendo-se no vento.
Mas, sobretudo,
exijo um tapete de veludo
para os passos que eu ainda quero dar.
Se você não se julgar capacitado,
esqueça a cena do beijo apaixonado
devolva o tema,
desligue o som.
De tudo que foi bom, eu guardo o espanto
por tê-lo achado e me perdido tanto,
por ter fundido meu tempo em sua hora.
Acertadas assim as diferenças,
Guarda-se o sonho no canto da despensa,
escreve-se um adeus - e vai-se embora.

Cristiano Contreiras disse...

Há um puro desabafar do que te aprisiona - um desejo? talvez, talvez mais.

Luiz Roberto Lins Almeida disse...

gostei dos labels!
o texto ficou visceral, gostei do contraste entre os olhos azuis e o vermelho dos venenos.

Luiz Roberto Lins Almeida disse...

o texto está do cacete mesmo!