Teu corpo, com amor ou não

21 julho, 2011

de que as segundas são uma merda até em sua origem

Naquela noite fria de domingo não era apenas seu próprio nome, que considerava insosso e indefinido demais (pouco feminino, reclamava para a mãe), que incomodava Téo. Estava com um sentimento estranho na barriga, sensação essa que tentava racionalizar. Se espreguiçava ao lado do namorado na cama revolta do sexo recém feito, o cheiro dos dois ainda pairava no ar e a respiração não tinha voltado ao seu ritmo normal. Mas alguma coisa não estava bem, a barriga era apenas a manifestação física de uma sensação nostálgica ruim que a assolava. Quando o namorado começou a dar os primeiros sons sibilantes, característicos de sua entrada nos primeiros estágios do sono, e relaxou os braços soltando-a, virou para o lado e acendeu um cigarro. Bateu as cinzas no chão.

As coisas não se encaixavam, o lugar, a cama, o apartamento. Na verdade percebeu que era ela quem não se encaixava naquela cena que parecia completamente artificial, montada para a atuação de outra pessoa. Analisando, percebeu que toda essa sensação de estranhamento era apenas a invasão de algo que ela conhecia muito bem, apesar de ter tentado mantê-lo longe desse relacionamento que estava gostando tanto. Era algo que a acompanhava em todos os casos que tivera e, inevitavelmente, havia entrado sorrateiramente e carcomido-os por inteiro.

Téo suportava a raiva e o ódio, sabia que eram sentimentos agressivos, porém, pelo menos, eram algo. Encarava-os como opostos, mas tão importantes quanto ao sentimento de paixão e de atração, todos inevitáveis, gerando-se mutuamente. O que agora a invadia era o oposto disso tudo, o contrário de sentir, a indiferença.

Deu uma longa baforada mirando a escuridão, sabia que o ato de dormir agora ao lado do namorado a conduziria por um caminho perigoso. Todos relacionamentos que conhecia descambavam para esse destino: situações constrangedoras que são suportadas apenas para manter um rótulo imbecil elaborado para dar satisfação ao resto da sociedade sobre um caminho que só diz respeito a eles. Por isso sempre foi avessa a todo esse relacionamento vendido em propaganda como um produto de prateleira. Nunca comemorou o dia dos namorados e jamais noivaria, entretanto sentia que se ficasse mais naquela cama, estaria seguindo diretamente para essa direção.

O namorado chega a levantar a cabeça ao ouvir a porta da frente do apartamento batendo mas, pensando ser sua imaginação e sem perceber a ausência ao seu lado, volta afundar a cabeça no travesseiro, tentando resgatar algum sonho interrompido.

Um comentário:

Yhuri disse...

Você é demais, cara.