26 dezembro, 2017

Do outro lado da rua

Era em frente a sua casa.
Ela desembarcou do carro de alguém, despediu-se ligeiramente e foi em direção ao portão.
Olhou pra trás de soslaio e flagrou-o desenhando em um bloquinho preto.
Mesmo intrigada, entrou e esqueceu.
A cena repetiu-se toda semana por vários meses.
Cada sexta-feira estava lá, sentado do outro lado da rua, vendo-a chegar com suas sandálias rasteiras, saia hippie e óculos escuros, sempre olhando no celular.
Um dia ela atravessou a rua.
Ele se assustou. Endireitou as costas escoradas ao muro e perdeu a cor. Não sabia o que esperar.
Ela mexeu em sua bolsa sem olhar e tirou algo de dentro.
Frente a frente, entregou-lhe uma foto sua.
Ele virou o rosto e fechou os olhos afastando a foto com a mão, como quem se depara com algo profano.
- Quero continuar desenhando da maneira que lhe vejo. - disse-lhe.
Ela não conseguiu ver o caderno, mas voltou pra casa com a certeza de que estava bela no desenho do rapaz.

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