19 janeiro, 2006

Overdose


Não lembro que horas eram quando elas começaram a chegar, recordo-me apenas da boca seca, da ardência nos olhos e da lua alta e clara. Elas não se intimidavam apesar da minha insistência em lembrá-las de sua sutil condição de meras alucinações, pelo contrário, reagiam cada vez mais agressivas apesar de minha perceptí­vel indiferença causada pela rotina da situação.

Em minha entorpecida mente flutuavam frases vagas e fragmentos de lembranças que, imagino, venham dos livros de Castañeda e Hesse além de alguns inúteis comerciais apelativos e ineficazes que são veiculados para coibir tal torpor. O eco em minha consciência insistia em repetir a efusiva sentença :"danos cerebrais irreversí­veis". Porém, como seria uma mente humana para a consideramos normal, sem danos? Qual o grau de clareza de pensamento que é utilizado como referência para tal mensuração? Aliás quem definiu o que é clareza de pensamento? Soltas perguntas cujas respostas não obtive.

O coração parecia querer explodir em meu peito quando o suor gelado e malcheiroso começou a escorrer, sua consistência viscosa impregnou meu corpo inteiro.

Assistir Tv era impossí­vel, foder com a garota que estava ao meu lado também não era opção, conversar nem pensar. O único pensamento que amenizava aquela angústia ferrenha era imaginar a chegada da moto que traria mais uma dose. Mas isso não ia acontecer e a agonia aumentava. Então resolvi sair, chamei as chaves, sai sem abrir a porta e levitei até o carro.

Vultos de homens errados, sonhos, penumbra, solidão e noite eram minhas constantes companhias. Foi então que resolvi desacelerar, aproveitar o clima pesado, suguei a doce aura de contravenção que do caminho emanava. Agora, apenas ébrio, supunha saber meu destino, pelo menos o desse instante.

4 comentários:

Anônimo disse...

E ai meu...
Ta gostando de BH?

Anônimo disse...

socorro.

forasteiro disse...

Hehehehe!

Anônimo disse...

igor, abri a cx querendo falar um pouco do seu estilo. em especial, das longas e bem construídas orações. de repente encontro a análise do eduardo - coisa que não sei fazer. e me calo! rs...
mas digo ainda: o texto me deixou um gosto amargo de passado. saio cheia de más lembranças. pesadas e dolorosas.
beijocas