14 março, 2013

Licantropia


Eu tento, eu juro que tento. Todo dia aumento os sulcos do tampo de madeira de minha mesa arranhando-a com a ponta de minha pena. Tento, dessa forma, afastá-la do papel e digo a mim mesmo, como uma espécie de oração ou solicitação de clemência, que não vou te escrever, que não existe dica mais clara para deixar-te em paz que tua ausência.

Não consegui. Essa merda de barulho ensurdecedor que só as coisas caladas fazem não me deixa em paz e empurra a tinta pro papel. Como meu peito me obriga a ver as coisas de determinada forma, minha vista fica nua de razão e acabo por entender tudo como conivência, até o silencio, por mais escrachado que seja o desprezo.

Agora te peço, sob o apelo até de misericórdia, um golpe final e eu retorno a minha quotidiana mediocridade. Puta que o pariu sua filha de uma puta, responda-me essa porra de carta nem que seja para me mandares à merda, caralho!

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