23 setembro, 2020

Sobre um romance não romântico

Houve uma vez um romance, porém essa história falada não escrita, esse rumor solto na cidade escurecida de luzes mas brilhante de estrelas e cometas, tinha uma peculiaridade, não era nada romântico. Nessa história fugaz, dois desconhecidos fizeram uma viagem épica, regada a vapores ferventes em jorros altos de água que atraíram bêbados sôfregos em compartilhar sua sabedoria mecânica e se juntaram em uma praia erma, de marés baixas e luas altas. Neste lugar conversaram, tanto na efusão de pensamentos ébrios quanto em longos silêncios. Ali comeram casquinhas de siri em busca de vermes que não apareceram e se encantaram com arraias saltitantes nos caminhos de corais onde nunca chegaram. Dançaram sob o olho irônico de um dragão celestial que observava tudo enquanto segurava o riso com as conversas que os dois segredavam, intercalando copos de cerveja, drinques improvisados e confissões de filhos e filhas soltos em mundos sombrios. Foderam, claro, como qualquer outro vivente nessa situação, talvez com menos ímpeto ou frequência que o esperado, já que não tinham a mesma intensidade de interesse, mas tudo bem, nunca se tem. Pouco tempo tiveram, o que era muito pra eles, já que pessoas de pouca paciência pras coisas românticas de épocas românticas têm baixa tolerância ao costume com outros e tendem a se sentir presos em rotinas compartilhadas. Estragaram possibilidades de maiores intimidades por traumas ou prepotências inúteis mas, nessas noites de lua alta e discernimento baixo, fizeram sua história pequena e curta, porém feliz pelo período eterno que durou nada além do que o tempo necessário.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu me lendo ....