28 dezembro, 2005

Romance Lusco-fusco

-Genoveva! Ah Genoveva! Minha miséria ofendia e excitava ao mesmo tempo tua educação burguesa. Minha casa suja com roupas, discos e livros jogados te interessava. Minha comida gordurosa e temperada agredia teu paladar refinado enquanto teu corpo sorvia bonito minha marginalidade.

-E os ratos, nossos voyeurs pestilentos? Te lembras dos ratos Genoveva? Tua agonia constante daquelas pequenas e rápidas coisinhas escuras que chispavam sombras pelos cantos da parede? O pior é que nem cama tinhas para subir. O máximo era o colchão jogado ao chão, suspenso por um estrado de madeira menor do que ele. Colchão este que parecia um obra abstrata com desenhos causados pelos mais variados flúidos corporais. Quadro que também ajudastes a pintar. Ah Genoveva, aquele tempo...

- Lembras Genoveva? Eu acabei com os ratos. Matei um a um com satisfação. Vã ilusão Genoveva. Achava que ias morar comigo. Abandonar o teu luxo pornográfico por nós. Esperei tanto Genoveva, mas agora...

- Mas agora Genoveva, foste embora. Cansou de mim e partiu, me chamou de covarde e disse que me traiu, bateu a porta na minha cara me mandando pra puta-que-o-pariu!

- É Genoveva... O que acalma um pouco a exaltação de meu ânimo é a impressão de que tua partida foi providencial.

- Genoveva, os ratos voltaram.

Um comentário:

Luiz Roberto Lins Almeida disse...

pra variar, absurdamente interessante. sua estética continua cativante.
Suerte.